Ao meu grande Pai
No topo daquela montanha, vivia um sábio de calça comprida e camisa azul de mangas longas. A face era o equilíbrio do homem rijo e terno, o corpo resistia ao ofício do tempo. E o tempo preparava-o como filho de Deus.
Na infância contida, colocaram-lhe, na mão direita, um lápis e um caderno e, na esquerda, um balaio de feira. Sem o equilíbrio necessário, lançou o conteúdo de uma mão na outra e carregou o balaio nas feiras com as duas mãos, abastecendo-o com uma vida de sonhos para depois.
No meio de uma estrada íngreme, pousou o balaio no chão, juntou barro, areia e concreto. Tornou-se mestre de obras - semeador de abrigos, escolas e edifícios. Sonhou formar sua família e casou-se com uma grande mulher. O amor do matrimônio presenteou-lhes com filhos, espinhos e flores. O grande sábio acarinhava os filhos com a aspereza na pele de suas mãos, ensinando, desde cedo, que a vida é “calejada e grossa”. Edificou-os também com a ternura do seu olhar e a beleza do seu sorriso.
De sol a sol, mudou de vida. Agora em vez de trabalho no meio do caminho, buscava transportar trabalhadores por diversos lugares espalhados na colina – virou taxista. Nas astúcias do destino das vias enladeiradas, pediu aos filhos que juntassem as mãozinhas, ainda crianças, e entregou-lhes, satisfeito, lápis e caderno, dizendo com voz magistral: “Façam desse presente, vossos destinos”. E eles entenderam a missão!
Nas idas e vindas dos filhos, nas vindas e idas de pai, subiu os degraus da idade, chegou ao cume da montanha, com mansidão e humildade, foi diplomado Grande Pai – venceu na vida o sábio de calça comprida e camisa azul de mangas longas.
Hoje aquele sábio recebe de seus familiares e amigos o abraço da saudade e, da tinta do meu lápis, nas páginas da minha história, minha admiração de filha.